Ex-Lavadora de Carro é Exemplo de Superação

Antônio Assis
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Foto: Paulo Paiva

Mayra Cavalcanti
Folha-PE
 
A palavra recomeço não simboliza apenas o que aconteceu com a vida da paranaense Dinorá Rocio Vieira, de 51 anos, ao chegar a Pernambuco, há aproximadamente um ano, como também o nome do lugar onde ela mora atualmente, na Casa de Acolhida Temporária o Recomeço, dirigida pela Prefeitura do Recife. Mudança também é algo que a define, pois ela saiu deixando a família em sua cidade natal, em Curitiba, no Paraná, sem garantias de emprego, passando por Tocantins e Alagoas, onde trabalhou como lavadora de carros e vendedora de picolé, até chegar ao Recife e ser aprovada em 12º lugar no concurso do Serviço Social do Comércio (Sesc), que teve mais de três mil pessoas inscritas. Agora, a paranaense serve de exemplo não apenas para suas 37 companheiras do abrigo temporário, como também para todos que buscam uma transformação.

Em outubro de 2011, Dinorá decidiu que queria mudar de vida. “Decidi que iria para Tocantins, para um lugar menos frio. Quando trabalhava em Curitiba não podia esperar pelas férias, pois meu trabalho era assalariado e eu não tinha dinheiro para nada. Por isso larguei tudo”, relata Dinorá. A paranaense conta que, em Tocantins, após sofrer preconceitos em um lava-jato, que só pagava a ela metade do salário, por ela ser mulher, resolveu ir para Maceió, em Alagoas. “Ainda trabalhei um tempo em uma pousada para juntar dinheiro e sair de Tocantins. Apenas com o dinheiro da passagem eu cheguei em Maceió”, conta. Na cidade, sem emprego e sem perspectiva, Dinorá foi morar em um albergue misto, onde passou um mês. Sempre enviando currículos e procurando oportunidades de empregos, ela continuou sem obter êxito.
“Foi quando pensei que não queria mesmo voltar para minha terra natal. Desde pequena eu lia os livros e os contos de Clarice Lispector. Foi quando lembrei que Recife foi a cidade que a acolheu e decidi vir para cá”, declarou. Com a ajuda de assistentes sociais, Dinorá comprou uma passagem e veio parar na cidade. “Fiquei dormindo no me­­trô até amanhecer, pois cheguei de madrugada. Foi quando comecei a fazer amizade com uns garis que me indicaram uma instituição da prefeitura para eu ficar”, acrescenta. Passando por três lugares antes de chegar ao Recomeço, a paranaense sempre acreditou que fosse conseguir um local bom para ficar. “Quando cheguei aqui, resolvi acolher o que de bom eles tinham para me oferecer, que eram cursos gratuitos”, lembra.
Operadora de computação e garçonete foram dois dos cursos que passaram a constar no currículo de Dinorá, além de ter retornado aos estudos em uma escola regular, com o objetivo de finalizar o segundo grau. “Foi quando as profissionais do Recomeço viram que teria um concurso e me incentivaram a fazer. Eu não acreditava que pudesse passar, mas elas, sim. Pagaram minha inscrição. Passei na primeira fase, depois na segunda e agora estou pronta para começar o meu trabalho como auxiliar de copa”, disse com orgulho a paranaense.

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