Foto: Paulo Paiva
Mayra Cavalcanti
Folha-PE
A palavra recomeço não simboliza apenas o que aconteceu com a vida da
paranaense Dinorá Rocio Vieira, de 51 anos, ao chegar a Pernambuco, há
aproximadamente um ano, como também o nome do lugar onde ela mora
atualmente, na Casa de Acolhida Temporária o Recomeço, dirigida pela
Prefeitura do Recife. Mudança também é algo que a define, pois ela saiu
deixando a família em sua cidade natal, em Curitiba, no Paraná, sem
garantias de emprego, passando por Tocantins e Alagoas, onde trabalhou
como lavadora de carros e vendedora de picolé, até chegar ao Recife e
ser aprovada em 12º lugar no concurso do Serviço Social do Comércio
(Sesc), que teve mais de três mil pessoas inscritas. Agora, a paranaense
serve de exemplo não apenas para suas 37 companheiras do abrigo
temporário, como também para todos que buscam uma transformação.
Em outubro de 2011, Dinorá decidiu que queria mudar de vida. “Decidi
que iria para Tocantins, para um lugar menos frio. Quando trabalhava em
Curitiba não podia esperar pelas férias, pois meu trabalho era
assalariado e eu não tinha dinheiro para nada. Por isso larguei tudo”,
relata Dinorá. A paranaense conta que, em Tocantins, após sofrer
preconceitos em um lava-jato, que só pagava a ela metade do salário, por
ela ser mulher, resolveu ir para Maceió, em Alagoas. “Ainda trabalhei
um tempo em uma pousada para juntar dinheiro e sair de Tocantins. Apenas
com o dinheiro da passagem eu cheguei em Maceió”, conta. Na cidade, sem
emprego e sem perspectiva, Dinorá foi morar em um albergue misto, onde
passou um mês. Sempre enviando currículos e procurando oportunidades de
empregos, ela continuou sem obter êxito.
“Foi quando pensei que não queria mesmo voltar para minha terra
natal. Desde pequena eu lia os livros e os contos de Clarice Lispector.
Foi quando lembrei que Recife foi a cidade que a acolheu e decidi vir
para cá”, declarou. Com a ajuda de assistentes sociais, Dinorá comprou
uma passagem e veio parar na cidade. “Fiquei dormindo no metrô até
amanhecer, pois cheguei de madrugada. Foi quando comecei a fazer amizade
com uns garis que me indicaram uma instituição da prefeitura para eu
ficar”, acrescenta. Passando por três lugares antes de chegar ao
Recomeço, a paranaense sempre acreditou que fosse conseguir um local bom
para ficar. “Quando cheguei aqui, resolvi acolher o que de bom eles
tinham para me oferecer, que eram cursos gratuitos”, lembra.
Operadora de computação e garçonete foram dois dos cursos que
passaram a constar no currículo de Dinorá, além de ter retornado aos
estudos em uma escola regular, com o objetivo de finalizar o segundo
grau. “Foi quando as profissionais do Recomeço viram que teria um
concurso e me incentivaram a fazer. Eu não acreditava que pudesse
passar, mas elas, sim. Pagaram minha inscrição. Passei na primeira fase,
depois na segunda e agora estou pronta para começar o meu trabalho como
auxiliar de copa”, disse com orgulho a paranaense.