Luiz Filipe Freire
Folha-PE
A faixa de pedestres deveria ser uma sinalização de promoção da
cidadania para quem precisa ir e vir, não fosse a quantidade de
problemas encontrados na hora de atravessar as vias. Estruturas com a
pintura apagada ainda são constantes no Recife. O descaso figura em
avenidas como a Nossa Senhora do Carmo, Martins de Barros e na rua
Imperador, todas essas localizadas no Centro do Recife, onde o tráfego
de veículos é constante. Problema para o aposentado Marcos Silva, 66
anos, que costuma acompanhar a esposa em consultas médicas. “Se com a
faixa, os carros por pouco não passam por cima da gente, imagine desse
jeito que está? É muito triste, ainda mais aqui, onde passa tanta
gente”, lamenta.
Por outro lado, ainda é mínima a quantidade de faixas de pedestres no
mesmo nível da calçada, muito comuns nos estacionamentos de shoppings e
aeroportos, por exemplo. Conforme dados repassados pela Companhia de
Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), elas são menos de 20 numa imensidão
de mais de seis mil faixas. Esses equipamentos ajudam a reduzir a
velocidade dos veículos ao mesmo tempo que permitem a travessia do
pedestre de forma mais confortável, ajudando o deslocamento, inclusive,
de pessoas com deficiência. A maioria está instalada no Centro (como na
avenida Dantas Barreto e rua da Moeda) e nas zonas Norte e Sul da
Capital.
Para a esposa de seu Marcos, a também aposentada Dulce Lessa, 63, o benefício de atravessar a rua por esse tipo de estrutura deveria ser estendido a mais partes da Cidade. “Tenho problema de coluna e é ruim esse sobe e desce na hora de atravessar. Infelizmente, não vejo muitas faixas assim”, reclama. E essa preocupação tem uma razão. Somente no Hospital da Restauração, conforme a assessoria de Imprensa da unidade de saúde, entre os meses de março e setembro deste ano, quase mil pessoas vítimas de atropelamento deram entrada para atendimento.
O presidente do Comitê Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, José Diniz, ressalta que estruturas desse tipo enfatizam que a prioridade deve ser do pedestre. “A cultura do trânsito aqui é do mínimo respeito a quem está a pé. E sabemos que em cidades das regiões Sul e Sudeste, a situação é bem diferente. Faixas elevadas fazem o carro parar e facilitam nossa vida. Para os cadeirantes, nem se fala. Só o fato de não estar passando pelas rampas mal feitas que temos no Recife já é muito bom”, critica.
A assessora técnica da presidência da CTTU, Gina Viegas, por sua vez, ressaltou que a instalação de faixas de pedestres com essas configurações tem grande influência no tráfego viário e que, por isso, nem sempre é viável. “Em vias com índice de mais de 600 veículos por hora, é complicado fazer intervenções que venham a reduzir a velocidade, a menos que seja para diminuir número de acidentes, por exemplo. Está na resolução 39 do Código de Trânsito Brasileiro. Fazemos o monitoramento de polos geradores de tráfego, como escolas e templos religiosos, para que se chegue à conclusão de que ali é viável instalar uma faixa de pedestre elevada”, ressalta.
A CTTU informou, ainda, que o cronograma de manutenção da pintura de faixas já foi retomado diante do fim do período chuvoso. Ainda neste mês, a sinalização será reforçada nas avenidas Agamenon Magalhães, Conde da Boa Vista, Mascarenhas de Morais e Maurício de Nassau, se estendendo a outras avenidas até o fim do ano.