Sebos Guardam Memórias e Histórias Mas Não Têm a Valorização Merecida

Antônio Assis
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Nilton Villa Nova
Folha-PE

Todos nós temos histórias a contar. Muitas delas nasceram das linhas e entrelinhas de livros que, por muitas vezes, são encontrados no fundo de uma caixa perdida. Quando desfeitos pelas traças ou perdidos definitivamente, porém, nos restam apenas memórias de citações, trechos, versos, ilustrações, capas embotadas. Reencontrar exemplares marcantes para nós pode ser bastante difícil, já que muitos livros estão fora de circulação ou são de difícil acesso em livrarias e bibliotecas. Entretanto, ainda há uma possibilidade desse resgate nostálgico através dos tradicionais mercados de sebos.


Quem procura conhecer clássicos, colecionar raridades, ou mesmo adquirir livros recentemente lançados por um preço mais baixo, provavelmente encontrará o que procura em comércio do gênero. O mercado de livros usados é democrático, sem restrições quanto à clientela. Apenas em um período do ano, que vai de novembro a fevereiro, há uma predominância de público: pais de alunos muitas vezes recorrem aos sebos para conseguir livros a preços bem mais baixos em relação aos novos, vendidos em shoppings e livrarias. Diferença que muitas vezes chega a 100%.

O Recife possui uma praça organizada especificamente para o segmento de compra, troca e venda de livros usados desde 1981, uma das únicas do Brasil. No último domingo (26), o Pátio do Sebo, situado na rua da Roda - transversal à avenida Dantas Barreto -, completou 31 anos de inauguração. Com 19 boxes de nove metros quadrados abarrotados de livros, a variedade de livros encontrados impressiona. De bíblias a livros de magia negra, de Dom Quixote a Harry Potter, de Homero a Paulo Coelho, de astronomia a astrologia, um curioso poderia passar um dia inteiro checando apenas as lombadas das publicações encontradas ali.

Nada muito caro, mesmo considerando os mais raros e antigos. O maior preço encontrado foi o de R$ 500 pelo livro “Atlas da Anatomia Humana” (Johannes Sobotta, 22ª edição, 2006), enquanto os menores ficaram por conta dos cordéis, vendidos por R$ 1, cada um. Dos 16 comerciantes do local, dois se estabeleceram desde a inauguração, outro herdou o negócio do pai. Mas os que chegaram depois ainda se instalaram a tempo suficiente de viver os tempos áureos da praça, quando muitas pessoas, circulavam pelo local e terminavam por comprar algum livro e sentar para ler em um dos 12 bancos da praça. Quem tinha sorte, sentava-se à sombra de uma enorme “pé de lã de barriguda” e ao lado de Mauro Mota, eternizado em uma escultura em tamanho real.

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