Márcio Bastos
Folha-PE
Multinstrumentista autodidata, Naná Vasconcelos sabe como poucos que música não é feita necessariamente com instrumentos e técnicas tradicionais. Suas primeiras experiências musicais aconteceram durante a infância, quando tirava sons a partir do seu corpo e de objetos disponíveis em sua casa, como panelas. Por isso, quando foi convidado para criar um show especial para o Festival Internacional de Teatro de Objetos (FITO), em 2011, o processo criativo proposto lhe pareceu muito natural. E “Pinipan” encantou o público com a sonoridade extraída de panelas e penicos. Chamado novamente para participar do evento, que acontece entre os dias 14 e 16, ele apresentará o inédito “Guarda Som”. Em conversa com a Folha de Pernambuco, Naná falou sobre o novo projeto, sua carreira e paixão pela música. “Na minha vida, não planejo muito as coisas; tudo vai acontecendo”, conta Naná Vasconcelos. Com essa percepção de que as curvas podem ser mais interessantes do que a linha reta, o músico teve sua trajetória artística marcada por projetos, parcerias e convites que surgiram espontaneamente. Foi assim que ultrapassou as fronteiras de Pernambuco, levando seu som para várias partes do Brasil e do mundo.
Artisticamente inquieto, Naná ressalta que suas experiências fora do Estado (viveu três décadas no exterior) sempre foram agregadoras e lhe abriram novas possibilidades como músico. “Acho que se tivesse permanecido em Pernambuco ficaria acompanhando cantores. Por aqui, a música instrumental, a percussão, sempre ficou em segundo plano. Viajar permitiu que eu me firmasse como solista”, afirma. Mas, ainda que o alcance de sua obra seja global, ele é enfático em reafirmar suas raízes. “Morei fora, mas nunca saí daqui”, afirma.
É à essa conexão com sua terra natal e à multiculturalidade brasileira que Naná Vasconcelos atribui muito de seu sucesso internacional. “No Brasil, vários elementos vindos de diferentes partes da África se encontraram pela primeira vez. Unidos às heranças portuguesas e indígenas, eles formaram uma terceira identidade, que é a brasileira. É preciso entender que é justamente essa singularidade que nos destaca. Então, para mim, é muito importante manter essa particularidade”, enfatiza.
Para Naná, no entanto, isso não significa que a cultura deva ser engessada. O multinstrumentista, inclusive, lamenta que para o grande público, seu trabalho esteja associado somente ao maracatu e ao Carnaval. “Meu mundo não é só o maracatu. Meu trabalho é pautado por intuição, ousadia e crença, sempre buscando inovação a cada trabalho”, afirma. De fato, se há uma força que guia o trabalho de Naná, ela é a experimentação.
Por isso, para ele, desafios como o proposto pelo FITO são sempre bem-vindos. Se no ano passado panelas e penicos foram os objetos utilizados parar criar o (lindo) show “Pinipan”, agora é a partir de um enorme armário, estilo “art déco”, que ele explorará as possibilidades sonoras. Intitulado “Guarda Som”, o projeto trabalha com elementos que são encontrados dentro de armários, como as gavetas, uma mesa de passar roupa e até roupas sonoras, indumentárias às quais foram acoplados sinos.
“Quando entro em um projeto, sempre penso de onde posso extrair um som diferente. Levo a música muito à sério, mas faço isso brincando. Além disso, meu processo criativo é contínuo. Com “Guarda Som”, por exemplo, eu ainda estou experimentando. Pode ser que me venha uma ideia na hora em que eu estiver me apresentando, e isso é ótimo. Essa questão do imprevisível me encanta”, diz. Na performance, o pernambucano será acompanhado por músicos escolhidos por ele e pelos paulistas do grupo XPTO.
“Eu acho o FITO uma iniciativa interessante porque entretém e educa”, acredita. Ele diz que entre as atrações desta edição do festival que já pôde conferir, uma em especial lhe chamou a atenção, o espetáculo “Transporte Excepcional”, da Cia. Beau Geste (FR). “É uma performance linda. A forma como o artista interage com a retroescavadeira torna a máquina uma coisa orgânica. Me emocionou muito”, conta.
Assim como no teatro (e nas outras artes), o músico acredita que é importante que o artista procure dialogar com o público. “Acredito nas imagens que existem dentro da música. Por isso, procuro mostrar através de sons o que quero que o público veja. Para mim é isso: quando o músico toca, não precisa explicar nada, mas tem que procurar dizer alguma coisa”, conclui.
Folha-PE
Multinstrumentista autodidata, Naná Vasconcelos sabe como poucos que música não é feita necessariamente com instrumentos e técnicas tradicionais. Suas primeiras experiências musicais aconteceram durante a infância, quando tirava sons a partir do seu corpo e de objetos disponíveis em sua casa, como panelas. Por isso, quando foi convidado para criar um show especial para o Festival Internacional de Teatro de Objetos (FITO), em 2011, o processo criativo proposto lhe pareceu muito natural. E “Pinipan” encantou o público com a sonoridade extraída de panelas e penicos. Chamado novamente para participar do evento, que acontece entre os dias 14 e 16, ele apresentará o inédito “Guarda Som”. Em conversa com a Folha de Pernambuco, Naná falou sobre o novo projeto, sua carreira e paixão pela música. “Na minha vida, não planejo muito as coisas; tudo vai acontecendo”, conta Naná Vasconcelos. Com essa percepção de que as curvas podem ser mais interessantes do que a linha reta, o músico teve sua trajetória artística marcada por projetos, parcerias e convites que surgiram espontaneamente. Foi assim que ultrapassou as fronteiras de Pernambuco, levando seu som para várias partes do Brasil e do mundo.
Artisticamente inquieto, Naná ressalta que suas experiências fora do Estado (viveu três décadas no exterior) sempre foram agregadoras e lhe abriram novas possibilidades como músico. “Acho que se tivesse permanecido em Pernambuco ficaria acompanhando cantores. Por aqui, a música instrumental, a percussão, sempre ficou em segundo plano. Viajar permitiu que eu me firmasse como solista”, afirma. Mas, ainda que o alcance de sua obra seja global, ele é enfático em reafirmar suas raízes. “Morei fora, mas nunca saí daqui”, afirma.
É à essa conexão com sua terra natal e à multiculturalidade brasileira que Naná Vasconcelos atribui muito de seu sucesso internacional. “No Brasil, vários elementos vindos de diferentes partes da África se encontraram pela primeira vez. Unidos às heranças portuguesas e indígenas, eles formaram uma terceira identidade, que é a brasileira. É preciso entender que é justamente essa singularidade que nos destaca. Então, para mim, é muito importante manter essa particularidade”, enfatiza.
Para Naná, no entanto, isso não significa que a cultura deva ser engessada. O multinstrumentista, inclusive, lamenta que para o grande público, seu trabalho esteja associado somente ao maracatu e ao Carnaval. “Meu mundo não é só o maracatu. Meu trabalho é pautado por intuição, ousadia e crença, sempre buscando inovação a cada trabalho”, afirma. De fato, se há uma força que guia o trabalho de Naná, ela é a experimentação.
Por isso, para ele, desafios como o proposto pelo FITO são sempre bem-vindos. Se no ano passado panelas e penicos foram os objetos utilizados parar criar o (lindo) show “Pinipan”, agora é a partir de um enorme armário, estilo “art déco”, que ele explorará as possibilidades sonoras. Intitulado “Guarda Som”, o projeto trabalha com elementos que são encontrados dentro de armários, como as gavetas, uma mesa de passar roupa e até roupas sonoras, indumentárias às quais foram acoplados sinos.
“Quando entro em um projeto, sempre penso de onde posso extrair um som diferente. Levo a música muito à sério, mas faço isso brincando. Além disso, meu processo criativo é contínuo. Com “Guarda Som”, por exemplo, eu ainda estou experimentando. Pode ser que me venha uma ideia na hora em que eu estiver me apresentando, e isso é ótimo. Essa questão do imprevisível me encanta”, diz. Na performance, o pernambucano será acompanhado por músicos escolhidos por ele e pelos paulistas do grupo XPTO.
“Eu acho o FITO uma iniciativa interessante porque entretém e educa”, acredita. Ele diz que entre as atrações desta edição do festival que já pôde conferir, uma em especial lhe chamou a atenção, o espetáculo “Transporte Excepcional”, da Cia. Beau Geste (FR). “É uma performance linda. A forma como o artista interage com a retroescavadeira torna a máquina uma coisa orgânica. Me emocionou muito”, conta.
Assim como no teatro (e nas outras artes), o músico acredita que é importante que o artista procure dialogar com o público. “Acredito nas imagens que existem dentro da música. Por isso, procuro mostrar através de sons o que quero que o público veja. Para mim é isso: quando o músico toca, não precisa explicar nada, mas tem que procurar dizer alguma coisa”, conclui.