Em meio a uma rua tomada pelos carros e motos, uma bicicleta desolada estacionada num poste da via chama a atenção. Naquele ponto, todos os dias o auxiliar de serviços gerais, José Belarmino da Silva Filho, 38 anos, deixa o seu instrumento de locomoção para iniciar mais um dia de jornada de trabalho. E assim lá se vão mais de um ano estacionando a bicicleta naquele cantinho reservado.
Nesse curto intervalo de tempo, trabalhando num edifício onde reúne várias empresas de tecnologia, o funcionário relata a grande dificuldade em adotar o hábito saudável de ir de bicicleta para o trabalho diariamente. “Sempre venho de bicicleta quando está fazendo sol. Prefiro vir com ela para fugir dos engarrafamentos que ocorrerem principalmente na avenida Norte. Eu a deixo sempre no poste, mas fico com medo de alguém levá-la. Muitas vezes já encontrei ela com o pneu murcho aí tenho que carregá-la até o borracheiro”, relata o trabalhador.
A situação de José, aqui no Estado, acontece diariamente com várias pessoas, como também é o caso do desenvolvedor de web, Dayvson Marques, 22. Dayvson resolveu ir para o trabalho de bicicleta para melhorar sua qualidade de vida e evitar o estresse diário do trânsito. Contudo, quando chega ao trabalho, passa pela mesma dificuldade que José encontra na hora de estacionar. “Às vezes, largo tarde e tenho que pedir aos seguranças para colocar a bicicleta dentro da empresa. É um desgaste muito grande, pois alguns deles não deixam”, contou o desenvolvedor que deixa a sua “magrelinha” todos os dias presa em um poste em frente ao estabelecimento que trabalha.
Entretanto, até o final deste ano, José e Dayvson e os demais adeptos da bicicleta ganharão um incentivo a mais para continuarem a utilizar o veículo que surge cada vez mais como um transporte alternativo para fugir do trânsito caótico das grandes cidades. É que até esse período todas as empresas privadas com mais de 100 funcionários, como é o caso da de José e Dayvson, os órgãos públicos estaduais terão que disponibilizar, obrigatoriamente, estacionamentos para os usuários da bicicleta. A medida, que visa criar estacionamentos para as bicicletas em todo o Estado, passou a valer com a vigoração da Lei Estadual número 14.740/2012.
A lei, cujo projeto para a sua criação foi elaborado pela deputada estadual Teresa Leitão, foi sancionada no Diário Oficial do Estado, do último dia 20 de julho. Além da obrigatoriedade, os espaços a serem definidos para a criação dos estacionamentos, conforme a lei, deverão oferecer segurança aos ciclistas. De acordo com o documento, os estacionamentos poderão ser de duas formas: bicicletários ou paraciclos. O primeiro será destinado a estacionamento de bicicletas no período de longa duração. Passando a valer tanto para as empresas privadas quanto para órgãos públicos. Já na segunda opção, os estacionamentos ficarão instalados em vias públicas e serão utilizados para as bicicletas deixadas pelos usuários no espaço de curta e média duração.
A nova medida, de acordo com a criadora do projeto, que culminou com a lei, Teresa Leitão, baseou-se na observação do cotidiano e visa melhorar a qualidade de vida da população. “O projeto surgiu da observação da cena urbana. Analisando os estudos de mobilidade notei que a bicicleta tem muitos fatores positivos. Reduz as despesas, não polui, ajuda na mobilidade e na saúde das pessoas. Então, essa é mais uma ação para estimular o servidor a utilizar a bicicleta e melhorar a mobilidade urbana”, salientou.
Para José Belarmino, a iniciativa mal começou a entrar em vigor, mas já é comemorada. “Vai ser bom a implantação dessa lei porque dará mais segurança para nós. Muitas vezes eu venho para o trabalho de bicicleta e fico com vontade de voltar de ônibus. Mas não volto porque não tem onde deixá-la. Com a implantação do bicicletário eu terei a opção de deixar a bicicleta num lugar seguro”, disse.