Arquivos Secretos Revelam que Ditadura Monitorava Jornalistas Estrangeiros

Antônio Assis
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'Nunca imaginei que eles pensaram em me colocar para fora do país, nem sabia que eu era considerado um comunista'  Charles Vanhecke, repórter francês (Charles Vanhecke/Divulgação)
"Nunca imaginei que eles pensaram em me colocar para fora do país, nem sabia que eu era considerado um comunista" Charles Vanhecke, repórter francês


Correio Brasiliense

Cartas violadas, lixeiras reviradas e olhares observadores eram parte da rotina do jornalista francês Charles Vanhecke, correspondente do jornal Le Monde nos anos 1970. O repórter sabia das restrições impostas pela ditadura, mas tentava driblar o controle para revelar à Europa a realidade brasileira durante o regime militar. Ele agia de forma diplomática, sem entrar em confronto com os generais. Ainda assim, era um alvo constante da polícia. O que Charles Vanhecke não sabia é que o governo brasileiro cogitou até a sua expulsão. O jornalista francês era visto como um integrante do movimento comunista. “Nunca imaginei que eles pensaram em me colocar para fora do país, nem sabia que eu era considerado um opositor ou comunista”, revelou Charles ao Correio.

Documentos guardados no Arquivo Nacional e localizados pela reportagem mostram que correspondentes estrangeiros dos principais jornais do mundo eram vistos como inimigos pela ditadura militar, que por várias vezes analisou a possibilidade de expulsá-los do território brasileiro. Os arquivos, à época secretos, foram divulgados graças à Lei de Acesso à Informação, sancionada no fim do ano passado.

Além de Charles Vanhecke, a repórter Marvine Herietta Howe, do New York Times, também motivou a produção de dezenas de dossiês. “São obscuros os objetivos e propósitos a que se serve a senhora Howe, bem como os motivos dessa constante indisposição contra o Brasil”, diz o trecho de um relatório sigiloso elaborado pela extinta Divisão de Segurança e Informações (DSI).

Os dossiês disponíveis no Arquivo Nacional mostram que os militares viveram um dilema. Alguns defendiam a expulsão sumária dos correspondentes do Le Monde e do New York Times. Outros temiam a repercussão internacional negativa que a medida traria. “Sugerimos, neste momento em que jornais brasileiros são levados à Justiça por publicarem notícias inverídicas, que os jornalistas Marvine Henrietta Howe e Charles Vanhecke sejam convidados a deixarem o território nacional, pelo mesmo motivo”, diz trecho de um documento da Divisão de Segurança e Informação.

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