"Vitória de Humberto não une o PT"

Antônio Assis
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MANOEL GUIMARÃES, da Folha de Pernambuco

Confiante na homologação de sua candidatura, o prefeito João da Costa (PT) irá a São Paulo, hoje, véspera da reunião da executiva nacional, que vai deliberar se o gestor será de fato o candidato do partido ou se a legenda lançará o senador Humberto Costa como um ‘tercius’ - candidato para tentar unir um PT ainda mais dividido após a anulação da prévia em que o prefeito derrotou o secretário estadual de Governo, Maurício Rands. Essa hipótese não convence João da Costa, que rebate tal opção. “Eu disse a Rui Falcão (presidente nacional do PT) que Humberto tinha tomado partido na disputa. Então, ele não seria uma terceira via. Seria uma segunda via que tinha perdido a primeira prévia. Isso é propor dar a vitória aos vencidos”, dispara o petista, nessa entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco.
Prefeito, mais de duas semanas após anulação das prévias, o PT está perto de definir quem será o candidato no Recife. Terça-feira (amanhã), a executiva nacional deve decidir se homologa sua candidatura. Se não o fizer, a tendência é lançar o senador Humberto Costa. Como estão suas articulações?
A gente quer recompor o partido politicamente. Está claro que hoje temos visões muito diferentes do PT. Imaginar que um dia, iríamos estar defendendo intervenção no nosso próprio diretório? Daqui para a frente, quem vai defender a autonomia política? Toda a decisão de Pernambuco será tomada pela nacional? Como é que você se submete a isso? É entregar sua autonomia política, porque não teve maioria aqui, para a nacional. Recife não é uma cidade qualquer, o povo do Recife não aceita isso. O PT não é um partido qualquer.

Seu adversário, Maurício Rands, retirou o nome para apoiar Humberto, o que gerou o cancelamento da prévia. O senhor, porém, não retirou, supostamente contrariando orientação da nacional. Isso poderá respingar na decisão da executiva?
A decisão a meu favor é decorrente de um processo interno nosso, que foram as primeiras prévias. Quando se anulou as prévias, sem fato objetivo, foi uma decisão política. Se convocou novas prévias, o que não é uma intervenção, já que a decisão está com o filiado daqui. A prévia é o processo, que está no estatuto do partido, o instrumento maior, que está acima de qualquer decisão de direção. Está escrito no estatuto do partido. Se você tem uma prévia em processo de desenvolvimento e um candidato desiste, o outro é automaticamente homologado candidato. Tem decisões que membros da executiva estão levando em conta do ponto de vista da natureza política. Na política, você pode fazer uma avaliação certa ou errada. O problema é que essa decisão fere valores históricos do PT, de respeito à democracia interna. Alguém pode achar que, em nome de ser pragmático na política, vale a pena tomar uma decisão, mesmo abrindo mão dos valores do partido. Cada um tem que avaliar, mas eu discordo. Até porque os elementos objetivos não são suficientes para dar esse argumento. O governo tem resultados, eu tenho competitividade eleitoral, tenho articulação na sociedade hoje maior do que antes. Com esse processo todo, eu cresci, não diminuí minha presença política. Então, o que justifica? Não vi até agora, a não ser esse argumento do ‘tercius’, que ninguém se convence disso. Qual é o outro argumento colocado na mesa nesse debate político?

O estatuto do PT foi rasgado?
Não era nem para ter reunião na terça-feira. Era para a gente já estar homologado. Mas a executiva quer aprofundar uma decisão. Essa decisão pode ir de encontro ao estatuto. Em nome de quê? Quais são os argumentos para isso? Que Humberto forjaria a unidade do partido. Só sendo a paz no cemitério. Não tenho nada contra Humberto. Isso é um processo político. Não trabalho dessa forma de que “não vou apoiar Humberto”. O processo político justo, legítimo e coerente é homologar minha candidatura. Não trabalho agora com a hipótese de não homologar. Agora tenho que pensar em viabilizar aquilo que estou trabalhando.

Além de contrariar o estatuto, essa decisão de colocar Humberto não contraria até o discurso crítico que o PT fazia contra o ex-governador José Serra (PSDB), por não cumprir os mandatos? Humberto tem mais seis anos de mandato, e já seria escalado para outro.
Isso seria uma dificuldade a mais para explicar para a população de Pernambuco. O PT, com um mandato de senador, ter que abdicar disso, tendo um prefeito, com direito à reeleição. Eu não tenho que explicar isso, não estou propondo isso, defendo exatamente o contrário. Um dos argumentos para eu achar que Humberto não deve ser candidato é a gente não perder uma vaga que nós lutamos tanto em Pernambuco para o PT ter. Se a gente pode ter a Prefeitura e o Senado, por que temos que escolher um dos dois?

Rands falou que aceitou uma sugestão da nacional e saiu da disputa, e esperava que o senhor fizesse o mesmo.
Não foi isso que Rands fez. Primeiro porque não tinha decisão da executiva nacional. A última decisão da executiva foi de convocar as prévias. Outra coisa é um dirigente nacional, mesmo sendo o presidente, dizer: “Olha, nós temos essa opção que podemos tomar”. Podemos. Não é tomar a decisão. Se Rands tivesse a candidatura dele e eu a minha, a executiva teria que tomar uma decisão antes das prévias. Chamar a executiva nacional, cancelar a decisão anterior e colocar outro nome. Então não tem nenhum confronto a qualquer decisão de direção nacional. Rands fez a opção política dele, eu fiz a minha. Todo o nosso processo levava para que nós ganharíamos a nova prévia. Não posso falar pelos motivos de Rands. Mas não conversei com ele, então não sei as razões.

Houve exageros na disputa entre o senhor e Rands?
Em guerra não tem santo. Quando você está numa disputa, acaba cometendo exageros, porque quer ganhar. A história não é contada por quem perde, é contada por quem ganha. Eu disse isso no início do processo, em entrevista à Rádio Folha FM 96,7. Rands disse que seria tudo lindo, flores, uma festa, e eu falei que ia ser duro, tenso, uma disputa intensa. Não existe fazer prévia com quem é governo. Isso é uma loucura, eu disse isso desde o início. A direção nacional hoje está convencida disso, vai botar no estatuto. Não existe em nenhum lugar do mundo quem é governo fazer prévia. Porque quem disputa a prévia só ganha se falar mal do governo do seu próprio partido. Não existe. É verdade que em alguns lugares tem limites, mas aqui não teve. Foi um processo de autodestruição. As pessoas acham que me destruindo ou destruindo o governo, não tem a ver com eles. Tem. O partido fica mais fraco. Imaginar que o partido fica mais forte destruindo lideranças é um equívoco.

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