A Transpetro, braço logístico da Petrobras, recebeu, ontem, em cerimônia oficial, a primeira encomenda do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), o navio petroleiro João Cândido. A estatal anunciou a decisão de multar o EAS pelo atraso de um ano e oito meses na entrega. Segundo o presidente da Transpetro, Sergio Machado, o valor da multa está sendo avaliado de acordo com cláusulas do contrato de compra do navio, que é parte de uma encomenda de dez embarcações do tipo suezmax feita ao estaleiro. A solenidade teve a presença do governador Eduardo Campos, além da presidente da Petrobras, Graça Foster, que não se pronunciou durante o evento e não também não falou com a Imprensa posteriormente.
“O EAS terá um prazo (de 30 dias) para prestar justificativas referentes ao atraso. Eu vou analisar os posicionamentos e considero o que achar legítimo”, disse. A assessoria de Imprensa do estaleiro informou que não comenta custo do navio, “apenas o preço estipulado em contrato”. Sobre a multa, a resposta foi a mesma do cliente, “sigilos contratuais não permitem divulgar valores”.
Sobre possíveis atrasos para o próximo navio em construção no estaleiro, o Zumbi dos Palmares, Machado reiterou que o não cumprimento pode resultar em nova multa, mas que acredita que o prazo dado, para dezembro deste ano, será cumprido pelo estaleiro. “O navio está 90% edificado, que é a construção propriamente dita. Aprendemos muitas coisas com o primeiro. Agora, vamos evitar erros, e entrar em alto ritmo de produtividade, principalmente por se tratar de um estaleiro de produção altamente tecnológico”, pontuou.
A questão tecnológica é um entrave para o EAS. Desde a saída da Samsung da sociedade, a Queiroz Galvão e Camargo Correia seguem sem esse laço. Para o presidente da Transpetro, é questão de tempo. “A indústria naval brasileira não é mais vista como antes. Somos recebidos muito positivamente, já que somos o quarto maior volume em encomendas do mundo. Um parceiro logo virá”, destacou.
Encomendado pelo Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef), o João Cândido iniciou ontem sua primeira viagem, com destino à Bacia de Campos (RJ), onde será carregado com óleo cru para levar ao Terminal Almirante Barroso (Tebar), no Porto de São Sebastião (SP). Com 274 metros de comprimento e capacidade para transportar um milhão de barris (quase a metade da produção diária nacional), a embarcação atingiu um índice de conteúdo nacional de 70%, maior do que os 65% estipulados na primeira fase do Promef.
Em discurso, o recém empossado presidente do EAS, Otoniel Silva Reis, falou da ousadia de o Nordeste entrar no mapa da construção naval. “Pernambuco dá um passo decisivo para a descentralização do setor e põe fim a duas décadas de crise da indústria naval”, disse. “O navio está sendo entregue com total garantia de qualidade, atestada pela sociedade classificadora American Bureau of Shipping (ABS)”, garantiu.
Folha-PE