Cobiçada e pouco compreendida

Antônio Assis
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Por Luciano Siqueira
Em debate recente, da plateia me veio um comentário de sentido negativo acerca da chamada “nova classe média” – esse contingente de quase trinta milhões de brasileiros que recentemente ascendeu na pirâmide social e passou a contar no mercado consumidor. “É uma parcela da população que se coloca contra as mudanças que desde Lula vêm acontecendo!”, sentenciou a interpelante em tom inquisitivo.
Discordei de pronto. Até porque os resultados eleitorais indicam o contrário, a ponto de analistas terem criado a figura da “teoria do lago invertida”, referindo-se ao fato de que o segmento de maior poder aquisitivo e de mais elevado nível de instrução – a “classe média tradicional” – ter se manifestado muito sensível e acuada diante do bombardeio da mídia e da oposição ao presidente Lula, em seu primeiro governo, enquanto os chamados segmentos C, D e E (na classificação mercadológica) se converteram na base eleitoral principal do presidente, em sua reeleição. Invertendo-se, assim, o que se supunha acontecer antes: o segmento B é que exercia influencia sobre de mais, logo abaixo, que nem as ondas sucessivas a partir da queda de uma pedra sob lago de águas em repouso.
Tanto na reeleição de Lula e como na vitória de Dilma, o movimento deu-se em sentido contrário, a turma menos aquinhoada pressionando os melhores situados social e culturalmente.
Pois bem. Em artigo de alguns meses atrás, na Folha de S. Paulo, o economista Marcelo Neri - com a ressalva de não estar “falando de classes sociais (operariado, burguesia, capitalistas etc.), mas de estratos econômicos” – assinala a importância de se investigar, para a compreensão do que se passa com esse segmento da população, “as relações concretas entre fluxos de renda e estoques de ativos abertos em duas grandes frentes: a do produtor e a do consumidor analisadas em detalhes sociais e setoriais.”

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