Tucanos no samba de uma nota só
Luciano Siqueira
Publicado no portal Brasil 247
Mesmo cá da província, necessário acompanhar o que se passa na maior cidade do país, São Paulo. Até porque o Brasil é um todo e o pleito municipal na capital paulista terá óbvia influência em 2014, local e nacional.
Assim, três anotações são possíveis – e úteis para a compreensão do que se passa igualmente em outros lugares, guardadas as especificidades regionais e locais.
A primeira se refere à complexidade da situação, que envolve alternativas várias – seja no campo das forças que nacionalmente se perfilam em apoio ao governo Dilma, seja nas hostes contrárias. O PT, com a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad a tiracolo, movimenta-se no sentido de atrair o apoio do PSD do prefeito Kassab, a cujo governo os petistas fazem oposição. O PCdoB, que empunha o nome do vereador Netinho de Paula, de grande apelo popular, empenha-se em viabilizar essa candidatura própria brandindo argumentos mais do que justos, com respaldo em tendências reveladas por pesquisas. O PMDB do vice-presidente da República Michel Temer apresenta o deputado Gabriel Chalita. O PSB, nacionalmente alinhado ao PT e ao PCdoB, parte da premissa de que deve fortalecer o PSD do qual espera solidariedade em outras cidades importantes do País.
A segunda anotação apenas reforça as pretensões dos diversos partidos, mesmo entre aliados que se dispõem à disputa entre si: o pleito se dará em dois turnos e, com uma boa dose de espírito democrático, bom senso e flexibilidade política, comportará discrepâncias sem prejuízo de alianças num provável segundo turno.
A terceira anotação lança luz sobre as dificuldades do maior partido de oposição ao governo federal, o PSDB, envolto no dilema de absorver uma prévia entre quatro postulantes ou lançar mão, uma vez mais, do ex-prefeito (e também ex-governador, senador, deputado, ministro) e duplamente fracassado candidato à presidência da República, José Serra. Serra, nos últimos tempos, converteu-se numa espécie de Geni tucana: execrado quando se insinua para uma nova aventura presidencial, porém saudado como heroica solução para a disputa municipal. Mesmo carregando nas costas acidentes de percurso anteriores, como o da promessa não cumprida de que exerceria o mandato de prefeito até o fim.
O dilema tucano e o apego à solução Serra soam como melodia incômoda de um samba de uma nota só própria de um partido que não tem sido capaz de se renovar, cronicamente anêmico de ideias e propostas programáticas. Partido sem ideias é como saco vazio: dificilmente se mantém de pé.
Uma derrota do PSDB em São Paulo teria profundas consequências sobre as suas possibilidades nas eleições gerais de 2012.
Luciano Siqueira
Publicado no portal Brasil 247
Mesmo cá da província, necessário acompanhar o que se passa na maior cidade do país, São Paulo. Até porque o Brasil é um todo e o pleito municipal na capital paulista terá óbvia influência em 2014, local e nacional.
Assim, três anotações são possíveis – e úteis para a compreensão do que se passa igualmente em outros lugares, guardadas as especificidades regionais e locais.
A primeira se refere à complexidade da situação, que envolve alternativas várias – seja no campo das forças que nacionalmente se perfilam em apoio ao governo Dilma, seja nas hostes contrárias. O PT, com a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad a tiracolo, movimenta-se no sentido de atrair o apoio do PSD do prefeito Kassab, a cujo governo os petistas fazem oposição. O PCdoB, que empunha o nome do vereador Netinho de Paula, de grande apelo popular, empenha-se em viabilizar essa candidatura própria brandindo argumentos mais do que justos, com respaldo em tendências reveladas por pesquisas. O PMDB do vice-presidente da República Michel Temer apresenta o deputado Gabriel Chalita. O PSB, nacionalmente alinhado ao PT e ao PCdoB, parte da premissa de que deve fortalecer o PSD do qual espera solidariedade em outras cidades importantes do País.
A segunda anotação apenas reforça as pretensões dos diversos partidos, mesmo entre aliados que se dispõem à disputa entre si: o pleito se dará em dois turnos e, com uma boa dose de espírito democrático, bom senso e flexibilidade política, comportará discrepâncias sem prejuízo de alianças num provável segundo turno.
A terceira anotação lança luz sobre as dificuldades do maior partido de oposição ao governo federal, o PSDB, envolto no dilema de absorver uma prévia entre quatro postulantes ou lançar mão, uma vez mais, do ex-prefeito (e também ex-governador, senador, deputado, ministro) e duplamente fracassado candidato à presidência da República, José Serra. Serra, nos últimos tempos, converteu-se numa espécie de Geni tucana: execrado quando se insinua para uma nova aventura presidencial, porém saudado como heroica solução para a disputa municipal. Mesmo carregando nas costas acidentes de percurso anteriores, como o da promessa não cumprida de que exerceria o mandato de prefeito até o fim.
O dilema tucano e o apego à solução Serra soam como melodia incômoda de um samba de uma nota só própria de um partido que não tem sido capaz de se renovar, cronicamente anêmico de ideias e propostas programáticas. Partido sem ideias é como saco vazio: dificilmente se mantém de pé.
Uma derrota do PSDB em São Paulo teria profundas consequências sobre as suas possibilidades nas eleições gerais de 2012.