Antonio Carlos Jobim

Antônio Assis
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Rio - Na quinta, 25, se o Tom não estivesse nos páramos celestes — adorava essas firulas do idioma — estaríamos festejando seus 85 anos. Com a palavra, Ruy Castro, muito mais abalizado que eu: “Durante anos, Tom Jobim bateu ponto diariamente neste endereço (Rua Adalberto Ferreira, 32, Leblon) , de segunda a sexta -feira, na hora do almoço. Nele ficava a versão original da Churrascaria Plataforma, comandada por seu velho amigo (e veterano do Beco das Garrafas) Alberico Campana. Na Plataforma, Tom fazia a mais excêntrica boemia do Rio: a boemia diurna, das 11h da manhã às cinco da tarde. Pode-se dizer que, em seus últimos dez anos de vida, ele passou mais horas na Plataforma do que em qualquer outro lugar, exceto, talvez, em sua própria casa”. O trecho foi tirado do livro ‘Rio Bossa Nova’ (editora Casa da Palavra), lançado no fim de tarde do mesmo dia 25 num bar do Leblon. Como? Ainda não comprou seu exemplar? Vá correndo antes que acabe (só eu, na noite de autógrafos, comprei seis, um pra mim e cinco para dar pros amigos). Tom sentava na mesa perto da entrada. Em geral levava uma quentinha comprada em algum boteco. Uma vez dividi com ele um prato de dobradinha que trouxe do Bracarense. Às vezes, levava um cachorrinho branco, que ficava dormindo debaixo da mesa. Em vão Alberico e eu — dois velhos boêmios com a memória corroída por incontáveis chopes e uísques — tentamos lembrar como se chamava o vira-lata, era um nome engraçado. Evocamos detalhes da sua morte; parece incrível, foi há 18 anos. Ele tinha combinado passar um fim de semana conosco em Itaipava. Na véspera, telefonou dizendo que não podia nos visitar porque ia se operar (acho que da próstata) em Nova Iorque. Célia, que é médica, disse que aparentemente morreu de embolia pulmonar não diagnosticada a tempo. No Brasil, qualquer estudante de medicina sabe diagnosticar embolia. Já os americanos seguem um protocolo rígido. Se tivesse se tratado no Brasil, estaria até hoje conosco tomando suas biritinhas. Depois que morreu o Leblon nunca mais foi o mesmo. Nem nós.
Jaguar

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